- Título: Fronteiras
- Autor(es): Hilan Bensusan
- Instituição: Fundação CECIERJ
- Tipo: Educação Pública
- Data: 03/01/2007
- URL:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/7/1/fronteiras
- Código do Recurso: 18876
- Descrição: Se queres ousar, pensa,
pode ser diferente,
podemos demolir as estradas para não atrapalhar os baobás,
podemos criar tecnologias para distribuir prazer,
podemos parar de demarcar fronteiras quando imaginamos,
quando intuimos, quando desejamos, quando oferecemos.
Podemos parar de demarcar fronteiras
entre o que somos
e o que queremos ser,
entre o que somos
e o que somos obrigados a ser,
entre o que somos
e o que pretendemos ser,
entre o que somos
e o que as negras, os mendigos, as bichas e as putas são.
Podemos parar de demarcar fronteiras que custam sangue
e se fazem pondo desprezo de um lado e medo de outro.
Podemos até parar de demarcar fronteiras
antes que demarquemos a fronteira da vida e fiquemos fora dela.
Se precisas ousar, ousa mais,
pode ser diferente,
podemos deixar a terra crescer frutos de todo porte,
não pensar que ela é nossa geladeira quente,
e a cada dia comer coisas diferentes.
Podemos parar de ver o mundo com as cores dos mapas.
Podemos parar de demarcar fronteiras
entre o que fazemos
e o que nos faz fazer,
entre o que fazemos
e o que fica feito depois que fazemos,
entre o que fazemos
e o que somos capazes de fazer,
entre o que fazemos
e o que fazem as indigentes, os pobre caducos, as moribundas.
Podemos parar de demarcar fronteiras que custam sangue
e se fazem pondo certezas de um lado e indiferença de outro.
Podemos até parar de demarcar fronteiras
antes que demarquemos a fronteira da vida e fiquemos fora dela.
Se gostas de ousar, inventa,
pode ser diferente,
podemos abandonar as instituições financeiras aos fungos,
podemos dar títulos de propriedade às paineiras,
podemos viver em cidades do tamanho de nossos passos.
Podemos parar de procurar trigo no joio.
Podemos parar de demarcar fronteiras
entre o que gostamos
e o que deveríamos gostar,
entre o que gostamos
e o que pensamos gostar,
entre o que gostamos
e o que fingimos gostar,
entre o que gostamos
e o que os outros tem que aprender a gostar;
do que gostam as miseráveis, as amantes excluídas, os asilados.
Podemos parar de demarcar fronteiras que custam sangue
e se fazem pondo ordem de um lado e violência de outro.
Podemos até parar de demarcar fronteiras
antes que demarquemos a fronteira da vida e fiquemos fora dela.
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