- Título: A globalização e os idiomas
- Autor(es): Mariana Cruz
- Instituição: Fundação CECIERJ
- Tipo: Educação Pública
- Data: 01/06/2010
- URL:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/10/20/a-globalizaccedilatildeo-e-os-idiomas
- Código do Recurso: 19705
- Descrição: Por mais que não se queria entrar na intimidade alheia, depois do advento do celular isso se tornou um tanto difícil, principalmente para quem não é eremita, misantropo ou surdo. Basta circular pelas ruas, frequentar restaurantes, andar de elevador, ou estar em qualquer espaço público para “ficar por dentro” involuntariamente da vida daquela pessoa que está ao seu lado e que você nunca viu antes (e provavelmente nunca mais verá). Para os usuários de transportes coletivos, como eu, o único jeito de escapar do blábláblá imposto pela vizinhança é refugiar-se no i-pod ou concentrar-se em uma leitura para lá de interessante. A primeira opção não uso por motivos de segurança; a segunda, porque me causa tonteira. Mas se antes ficava irritada com a indiscrição das pessoas que, aos berros, davam detalhes da noite anterior, do caráter duvidoso da colega de trabalho ou da doença da mãe, relaxei: é algo que não tem como controlar, só me resta aceitar. Foi assim que, à minha própria revelia, comecei a deleitar-me com os fiapos de conversa dos indiscretos que não estão nem aí para quem está ao seu redor. Legal também é que, pelo o que a pessoa fala, a gente pode brincar de adivinhar a profissão, o estado civil, o time, a religião, as preferências políticas, sexuais... Torna-se uma espécie de jogo. À primeira vista, o último papo que escutei não tinha nada de interessante: nem drama mexicano, nem romance arrebatador. Era simplesmente uma supervisora, gerente ou algo assim que dava ordens a uma subordinada. Apesar do conteúdo pouco estimulante, chamou-me a atenção não o que foi dito, mas sim o modo como foi dito. Comecei a pensar na diversidade existente em nossa língua, o modo como ela é usada de acordo com a classe social, a profissão, a tribo e a idade do falante, entre tantas outras variantes. Pelo que pude “pescar”, a moça trabalhava em uma empresa de medicamentos e, dentre as várias funções que exercia, coordenava uma equipe que montava stands para divulgação dos produtos em feiras especializadas.
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