- Título: Poesia necessária: os inúteis de Manoel de Barros
- Autor(es): Luis Estrela de Matos
- Instituição: Fundação CECIERJ
- Tipo: Educação Pública
- Data: 21/12/2010
- URL:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/10/47/poesia-necessaacuteria-os-inuacuteteis-de-manoel-de-barros
- Código do Recurso: 19866
- Descrição: Existem versos e versos. Existem também os reversos e os desversos. Olhos livres para o novo. Manoel de Barros é coisa boa de se ler. Afinal, gafanhoto também anda de muleta e os pardais descascam larvas. Fique tranquilo, com cem anos de escória uma lata aprende a rezar... E a quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso. Manoel é assim, surpresas que surpreendem. Para os olhos, os sentidos, a carcaça, os pedaços de alma que por ventura ainda resistam em nós. Quando menos se espera, ele nos espreita, nos ataca e dá seu bote. É pantaneiro, sim, senhor. Seus versos, ou não versos, ou fragmentos de coisas, têm o melhor de todos os venenos: poesia. E inusitada. Quando menos esperamos, a gente se pega lendo e abrindo seus livros pelas livrarias deste Brasil sempre sem fim. Universalmente pantaneiro, Manoel de Barros olha as coisas menos percebidas. Quase sempre nos obstinamos nos grandes temas, quase sempre nos deixamos ensinar o que é o que não é poesia nas escolas-cativeiros. Quase sempre o professor tem dificuldade para falar sobre o simples e o trabalho pesado que dá fazer o aluno experimentá-lo. Mitifica-se tudo: grandes poetas, grandes tragédias, grandes questões. Várias são as maneiras de ser grande. Manoel já avisava em versos que “nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves”. O que podem os quintais? Podem tanto que ficam onde estão. Você já teve um quintal em sua vida? No mundo dos playstations e playgrounds iríamos para outras sendas. Ou carrefours... Difícil hoje é viver o simples. Arre! Estou tentando não contar nada, sem uma história, apenas indicando mostrar uma alegria. A poesia de Manoel de Barros é uma alegria súbita. Ele mesmo fala: “Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia”.
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