Armadilhas de sedução em Meu tio o Iauaretê

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  • Título: Armadilhas de sedução em Meu tio o Iauaretê
  • Autor(es): Alexandre de Amorim Oliveira
  • Instituição: Fundação CECIERJ
  • Tipo: Educação Pública
  • Data: 03/02/2009
  • URL: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/9/4/armadilhas-de-seduccedilatildeo-em-meu-tio-o-iauaretecirc
  • Código do Recurso: 19381
  • Descrição: A perplexidade perante a questão do conhecimento é um primeiro passo para o desenvolvimento de “um discurso que a alma mantém consigo mesma”, como afirma Sócrates em Teeteto. É fundamental ao filósofo (e à filosofia) que ocorra o espanto, que o homem se torne admirado em relação a si mesmo e ao que existe em torno de si. A partir daí, a descoberta do que ele é e do que ele não é pode ser obtida – e a partir daí a busca de um significado (mesmo que por fim não haja significado) move o homem.
    É nesse sentido que a perplexidade se torna também fundamental em Meu tio o Iauaretê, conto de João Guimarães Rosa publicado pela primeira vez em 1961. O espanto, nessa história, acontece em dois níveis: de modo diegético, visto que o onceiro Tonico se depara com um desvelamento de si próprio como fundamentação de sua hybris; e de modo interpretativo, na relação leitor-obra, quando a narrativa e as transformações ocorridas tornam o leitor um participante incrédulo da experiência que está vivendo.
    E a incredulidade é necessária para que haja um não-assentamento das ideias propostas pela obra, uma vez que a construção do conto se baseia justamente na indefinição do que é verdadeiro no discurso do protagonista. Como propõe Heidegger, “a verdade consiste na concordância de uma enunciação com o seu objeto”. A discordância ou dubiedade desse acordo, como ocorre no conto, é uma demonstração da arte como mímesis produtora de uma nova visão da experiência da verdade.
    Os termos usados por Guimarães Rosa para definir o tio do narrador – Iauaretê ou Jaguaretê – vêm do tupi yaware’te, que significa “onça verdadeira”. A ficção trabalha em sua função mimética e reproduz em narrativa o que o leitor vivencia: o espanto constante com a necessidade de escolher entre o que ele quer acreditar que seja verdade e o que ele prefere entender como mentira. A armadilha foi montada: em meio a falsas intenções e aproximações com a verdade, o leitor se acha seduzido pela obra. Mais uma vez a arte exerce a sedução da mímesis, através do pseudos.
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